Se você procurar por “como se vestir bem aos 60 anos” ou “roupas para mulheres com mais de 50 anos”, vai encontrar listas, truques, guias e regras sobre como se vestir. Abaixo, estão algumas das dicas que aparecem com frequência nas pesquisas do Google.
Evite babados, alguns tons de rosa e estampas que infantilizam a roupa. Depois dos 40, o comprimento da saia deve aumentar um pouco. Invista em modelos mais soltinhos, que não marcam o corpo. Calça ou blusa de lycra não favorecem – destacam cada quilo extra. Cuidado também para não usar roupas muito largas, que passem desleixo. Fuja de roupas muito clássicas. Evite peças muito estampadas, aposte nos tons neutros – mas atenção com tons de bege e cinza próximos ao rosto para não aparentar mais velha.
Quando a idade aumenta, o vestido fica mais comprido e o cabelo mais curto. Será?
Quantas vezes você já ouviu alguém dizer “isso não é para a minha idade”? A lista proibitiva e a de itens recomendados é extensa. Roupa, comprimento, cabelo, maquiagem, cores e acessórios que devem ser usados com cuidado para não te envelhecer – mas que ao mesmo tempo não façam com que você esteja tentando parecer mais jovem. É como se estivesse escrito na etiqueta da roupa, junto das instruções de conservação e a composição da peça, quem (e até quando) pode usá-la.
Talvez em escala menor, o mesmo acontece quando uma mulher mais nova gosta de roupas que se espera serem usadas por pessoas mais velhas (quem ama tudo que é vintage e retrô já deve ter passado por isso).
“Esse penteado te envelheceu”. “Precisa usar umas roupas mais decotadas, coloridas. Hoje em dia tem cada coisa linda pra menina da sua idade”. “Você deveria comprar uns shortinhos. Acho lindo, só não uso porque passei da idade”.
O valor da juventude
Quando olhamos para a história, percebemos que se por um longo período a sociedade valorizou o ser rico, e aspirou uma imagem ligada à aristocracia, o mundo pós Segunda Guerra Mundial deu lugar ao ser jovem. Tendo o estado de juventude representado pela rebeldia, pela resistência e por quem desenhava o futuro, novos códigos foram construídos e outras aspirações surgiram. Será que hoje, quase 70 anos depois, faz sentido a gente seguir e perpetuar esses códigos? Separar e classificar a moda por idade? Se, dentro de um mesmo gênero, recorte social e faixa etária temos pessoas tão diferentes entre si, por que ainda insistimos em delinear o que pertence ou não à uma determinada idade?
A roupa de criança
Os looks de Suri Cruise estamparam várias matérias quando ela era criança – algumas colocando a filha de Kate Holmes e Tom Cruise como uma mini it girl, e outras criticando o modo como estava vestida – considerando inadequada a forma como se vestia para sua idade.
É claro que precisamos considerar várias camadas quando pensamos nesse exemplo, mas é importante entender que a liberdade de movimento (para brincar e correr) não é liberdade se é imposta por outras pessoas e impera sobre a liberdade de escolha. “Minha filha escolhe suas próprias roupas desde que tinha dois anos de idade. (…) Suri é mágica quando se trata de roupa, ela é uma artista” disse Kate em uma entrevista em 2011.
Recentemente, uma influencer foi elogiada por suas filhas estarem “vestidas de criança” brincando na Disney. Quais são as peças que podemos considerar como “roupa de criança” e “roupa de adulto”? O fato de caber (ou não) é suficiente? E quanto às pessoas pequenas que muitas vezes compram roupa na seção infantil?
Parece que roupa é um brinquedo daqueles cheios de pecinhas que a gente tem medo que uma criança engula. E no fim, o que a gente acaba engolindo é uma ideia que não faz qualquer sentido no mundo que vivemos hoje.
Que a gente saiba, cada vez mais, que o que não serve pra nenhuma idade é passar vontade ou usar o que não gosta.
